A Wolkengedanken está com dificuldades de tempo para me mandar um e-mail que falta, mas entretanto já escreveu um post, de resposta ao meu anterior, no blog dela (repito : quem quiser tem o respectivo link na margem esquerda deste). De modo que resolvi começar já a responder (salvaguardando as hipóteses de alterar ou acrescentar quando me parecer apropriado).
Começo pelo fim (até porque está em maiúsculas...). Acho que cais na esparrela cartesiana/ocidental de pensar em termos de ou/ou. Ora a sabedoria leva-nos a pensar em termos de e/e. Nem calculas a quantidade de falsos dllemas que se resolvem dessa forma ! E é tão simples ! Há tempos para... e tempos para...
Quanto à filosofia versus religião, se afinal para ti tanto faz então não há mais nada a dizer (mas mantenho o que escrevi...). Registo que aceitas o "religare".
A "atenção", o concentrar-se no presente : com certeza. Desde que...; mas tu sabes !
A meditação : como dizes, "a fantástica dignidade em aceitar com carinho a própria forma de ser, de pensar e de sentir..." -- é isso, e tudo o que acrescentas a esse respeito está certo ! Dizes que náo pretendes que já consegues, que não é fácil, etc.. Tudo bem ! Como dizes : "Mas vejo o caminho ! " , É o que importa !
Quanto ao resto : já te respondi com a alternativa ou/ou, e/e.
Vou já publicar isto, assim mesmo (e continuo à espera do e-mail...)
:))
Aviso à navegação : quem quiser seguir este "folhetim" terá que saltar entre este blog e o francês -- ver post [48] (mas como já veritiquei, pelo contador por países, que no meu blog francês tenho mais visitas de portugueses que de franceses, isso não deve constituir dificuldade de maior). E quem quiser seguir mesmo, terá também que ir ao blog de Wolkengedanken, o que será fácil recorrendo ao respectivo link na lista de links de blogs deste mesmo.
Indo à matéria.
Pelos vistos, o que começou por ser um percalço ( não conseguir escrever um comentário sem o apagar e, daí, escrever um post) tornou-se um modo. Pois que assim seja. O que começou como uma conversa a dois torna-se uma troca de impressões pública. Tudo bem !
Começando pelo livro : é esse mesmo. Até a capa tem o mesmo aspecto gráfico !
Quanto ao outro : trata-se de uma tradução do tibetano, mas a versão que eu tenho foi traduzida do americano. O título completo é : The Tibetan Book of the Dead ; the Great Liberation through Hearing in the Bardo.
Mas acho que o mais importante é mesmo aquele que tu tens.
Voltando ao tema filosofia versus religião, remeto-te de novo para o Lama Denys (post [21] do bl. fr.). No que me toca, foi fundamental a afirmação . "Não há credo, nem há dogma, nem há Deus". Ou seja , nada a ver com as três religiões do livro (ou reveladas). Mas tenho em conta a origem etimológica do termo : religare (que eu prefiro usar com traço de união : re-ligar). Neste momento, em que nem sequer nos conhecemos, o que é que me liga a ti : é o budismo (haverá outros aspectos de entendimento, comunicação de inconsciente a inconsciente, sei lá...). Mas o budismo é a nossa re-ligião/ligação.
O que é para mim : foi um encontro comigo mesmo. Foi o resultado, ou o termo, de uma "busca" que resultou de uma "crise" (tem que ser entre aspas, porque todos os termos são maus...). Quando "encontrei" o budismo (detesto os ismos, prefiro chamar-me búdico...) senti que toda a vida tinha sido búdico sem o saber ! E foi muito naturalmente que dei os passos seguintes (que creio que já te referi).
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Vou voltar ao teu post, para ver se deixei escapar alguma coisa, Até já...
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O intervalo foi maior do que o que pensava. Entretanto meteu-se ver o teu novo post e comentá-lo. E depois foi o jantar e um pouco de telejornal. E mais isto e aquilo... Com a diferença horária entre a Áustria e Portugal, se calhar já não lês isto hoje. O que me chateia porque fico em pulgas para ver a tua reacção...
Creio que me facilitou considerar-me búdico o nunca ter sido católico. O que náo é muito usual num país de tradição e predominância católicas. Mas foi uma das minhas heranças paternas (a outra foi a política, onde, com as devidas adaptações dos tempos, guardo as tradições paternas -- ambos fomos presos, etc.,etc.). De resto -- é engraçado -- a minha total ausência de sentimento religioso facilita-me as relações com os católicos , mais até do que com os ex-católicos, porque não tenho nenhum passado de que tenha que me libertar.
Voltando à tua questão básica : se me perguntares se o budismo é sobretudo uma religião ou uma filosofia, a minha resposta é : é sobretudo uma filosofia de vida, uma sabedoria (termo de que gosto muito).
E com isto creio ter respondido a todas as tuas questões. Rezo ao Senhor (valha-me Deus...) para que ainda leias isto hoie !
:)))))))))))))))))))) Zé-Carlos
Continuo a explorar as possibilidades que me são oferecidas pelo meu blog francês -- ou melhor : pela plataforma em que ele se insere.
Comecei por criar uma "comunidade".
Uma explicação prévia : lá, cada post é duplamente situado ou classificado.
Em primeiro lugar o autor escolhe a "categoria" que lhe quer atribuir (dentro de uma lista que ele próprio definiu e que serve para agrupar tematicamente os posts que publica).
Em segundo lugar escolhe a "comunidade" em que quer que ele surja -- o que condiciona parcialmente o público que irá primordialmente vê-lo. Para tal tem que se ter inscrito nessa comunidade, podendo fazê-lo em várias e podendo ser recusado pelo "animador" da comunidade (eu, por exemplo, já recusei um "blogueur" porque, antes de o aceitar, fui ver o blog dele e entendi que de todo nâo se enquadrava no espírito da minha comunidade, tal como está definido na sua descriçao e nas suas palavras-chave).
Por exemplo : eu criei a minha própria comunidade, de que vieram a fazer parte outros blogs, mas nem sempre publico lá -- depende dos conteúdos -- porque sou também membro de mais quatro. Digamos que as comunidades são. de certa forma, "especializadas" e constituem "redes".
Mas vamos ao que me traz aqui hoje. Explorando, como acima disse, as potencialidades da plataforma "over-blog", criei hoje um "forum de discussões" a que chamei "Sabedorias". Como o nome indica, o forum serve para discutir. Discutir o quê ? Com um título destes, praticamente tudo o que um grupo de pessoas queira discutir. Um forum pode comportar vários grupos, cada um com a sua temática específica. (Que pode ser até : não há tema, vamos "ao molho" e depois logo se vê...)
Mas uma coisa é obviamente necessária : pessoas.
E já agora a questão da língua. Num forum criado numa plataforma francesa é natural que a maior parte dos grupos use o francês. Mas nada impede que um grupo de portugueses se constitua como tal e decida discutir em português. Pela parte que me toca, como"administrador" (é assim que me chamam) do forum, não vejo nisso qualquer inconveniente.
Outra coisa : tudo isto é gratuito. (Como "blogueur" até posso, em certas circunstâncias, receber direitos de autor...Essa uma das razões -- não sei se já repararam -- porque tenho os meus dois blogs, o de cá e o de lá, protegidos por um copyright.)
Já estamos em Agosto, em plena silly season, nada é para se levar muito a sério. Para já. Mas vou lançando as minhas sementes e, na rentrée cá estarei para ver se recruto alguém para o "meu" forum.
Pensem nisso. Boas férias. E até à volta!...
P.S.-- Esquecia-me do mais importante : o endereço :
Para os eventuais interessados, fica aqui o link do meu blog francês.
Até breve e boas navegações.
E um agradecimento muito especial às pessoas que me têm honrado com os seus comentários e os seus encorajamentos. A todos devo muito do meu empenhamento nestas andanças bloguistas. Continuarei atento, na linha da "busca" e dos valores que me têm norteado e dos quais não me afastarei.
Mantenho em aberto a comunidade que criei no ORKUT, e também lá espero pelos interessados nos debates em torno do conhecimento da realidade numa postura transdisciplinar.
Mas tenho de ser realista e não esperar aquilo que se não pode obter.
Bem hajam.
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P.S. -- Uma última nota : também abri conta, com o meu nome (ver perfil), no Sapo MESSENGER.
Se calhar, não deveria ter distraído o meu "público" com devaneios «P'ra variar». Porque o que eu agora espero são respostas ao meu post [ 66 ] (e os aparentados), mesmo que elas sejam um não. Disso depende o que faço à comunidade que criei no Orkut -- por exemplo extingui-la, se o número de participantes não justificar a sua existência.
O tipo de assuntos que cabem no âmbito de um grupo que se reclama deste tema é muito diversificado. Por isso mesmo, a partir da adopção da Carta da Arrábida, passei a usar a expressão "transdisciplinatidade alargada", para a distinguir das formas mais restritas da mesma, que continuam a ter o seu lugar na prática corrente de muitas abordagens (incluindo as minhas), mas que não devem fazer esquecer o carácter holístico desta "nova" concepção do saber -- melhor seria dizer : da sabedoria.
Porque é disso que se trata.
Cá fico à espera de mais reacções.
Adenda : por causa da reacção de um sobrinho meu, que estranhou nem saber que eu tinha um blog, fiz, por mails, alguma divulgação do mesmo. E já comecei a receber respostas encorajadoras...
Com o balanço que levo, aqui vai mais uma (desta vez curta) citação. Sempre de Pema Crödrön.
(...) o dharma e a nossa vida são uma só e a mesma coisa.
(...)«Sejamos abertos e aceitemos todas as situações e todos os seres.»
(...) o dharma não vos diz nunca o que é verdadeiro e o que é falso. Encoraja-vos somente a descobri-lo por vossa conta e risco.(...)
O dharma que é ensinado e o dharma que é vivido são descrições da maneira como se deve viver e utilizar a sua vida para se despertar em vez de se adormecer. E se escolhermos consagrar o resto da nossa vida a tentar encontrar o que despertado quer dizer e o que adormecido quer dizer, penso que poderemos atingir o despertar.
No meu último post (Domingo) referi que tinha andado à procura de textos para citar nesta série. Sem sucesso. Não encontrava nada que me parecesse divulgável. Na sequência desse post uma das minhas "amigas" incitou-me a não desistir de publicar sobre o Dharma. De modo que meti-me ao trabalho. Só que mudei de abordagem. No Domingo tinha andado às voltas com três livros de um grande Rimpoché (à letra : "extraordinariamente precioso" -- é um título honorifico concedido pelos seus pares aos lamas que se distinguem pela sua grande sabedoria). Este lama, Chögyam Trungpa, é muito conhecido por ter sido um dos grandes responsáveis pela difusão do budismo tibetano no Ocidente. Por isso o escolhi. Mas daí a ser citável para mentes desprevenidas vai uma grande distância.
A mudança consistiu em ler atentamente (já o tinha percorrido um tanto distraidamente, como vi pelas muito poucas passagens sublinhadas) um livro de uma monja americana [que foi casada duas vezes antes de se tornar monja e é mãe de dois filhos] . E encontrei muito material citável. Nem sequer o vou "esgotar" hoje -- vou só dar uma amostra.
Ela chama-se Pema Chödrön. É o seu nome tibetano, que lhe foi dado quando ela "tomou refúgio" e que, portanto, ela usa ao esrever sobre budismo [ De resto o mesmo fez ontem a nossa monja Tsering Baldron quando interveio no programa da SIC-Mulher sobre budismo.] ["Tomar refúgio" é considerado como um segundo nascimento, a ponto de poder ser comemorado como um aniversário].
O livro tem um título interessante : "Entrar em amizade consigo mesmo" e, como sub-título : "Dizer sim à vida, reconciliar-se consigo mesmo e com o mundo", [Só o título já é todo um programa.] Vou citá-lo a partir da tradução francesa, porque é a versão que tenho.
Com tantos preliminares. e para não maçar muito o leitor, já não fica muito espaço para citações hoje, Mas,de qualquer forma, aqui fica uma amostra. Se as reacções forem favoráveis continuarei.
(...) Além de descobrir a nossa verdadeira natureza, aprendemos também a conhecer os outros. (...) O que é preciso reter é que a nossa verdadeira natureza não é um ideal ao qual nós devemos aspirar, É a pessoa que nós somos agora e é com ela que nós podemos entrar em amizade e celebrar.
Não existe nem inferno nem paraíso fora da maneira como entramos em relação com o nosso mundo. (...) O nosso trabalho na vida é de despertarmos, de deixar as coisas que entram no círculo despertarem-nos mais do que adormecer-nos. O único meio de chegarmos aí, é abrirmo-nos, ser curiosos e desenvolver uma espécie de sentimento de simpatia em relação a tudo o que acontece, para poder conhecer a sua natureza e daí tirar um ensinamento.
(...) Chegamos então ao mais interessante : como fazer ? (...) O mais difícil e o mais corajoso (...) é observar de maneira contínua as suas próprias crenças, directamente, com honestidade e clareza, e depois ir mais longe. Isto exige muito coração e benevolência. É necessário ser capaz de tocar e de conhecer o coração da sua experiência, sem rudeza e sem fazer nenhum julgamento. (...) ver o que é, Reconhecê-lo sem o julgar bem ou mal. Largar de mão e voltar ao instante presente.(...)É uma ocasião de ver que nos agarramos à nossa interpretação da realidade(...) nem mais nem menos : somente a nossa própria interpretação da realidade.
Creio que já chega , por hoje, Continuarei (ou não...).
Tomei-lhe o gosto. Ontem parei -- tinham sido muitas noitadas para a minha idade -- mas hoje retomo. Manda a verdade dizer que encorajado pelos comentários. Sem eles teria parado e voltado aos posts mais sisudos. (Não é que estes sejam hilariantes -- para isso falta-me por completo o jeito ) Mas sempre são mais "soltos".
Há bocado estava a pensar que estes me fazem lembrar o que eu chamava as "aulas selvagens", em que punha de lado o programa e, dando soltas à imaginação, discorria em debate com os alunos, sobre os temas (havia um limite : eram temas da disciplina) que me vinham à cabeça a propósito de qualquer coisa que tivesse acontecido.
Acrescente-se que esses limites eram latos. A sociologia. misturada com a epistemologia mais a veia transdisciplinar, dão para quase tudo. Sobretudo quando uma pessoa não se importa de ser classificada de marginal , ou desviante, ou excêntrica...Eram aulas muito divertidas, para mim e creio que também para os alunos (pelo menos a julgar pelas conversas que tinha com alguns depois das aulas).
Chega de memórias e voltemos aos posts. Há uma coisa que me deixa espantado. É que ninguém agarrou o desafio que deixei bem expresso entre Ocidente versus Oriente, ou mais exactamente entre pensamento de uma e outra origem. Será que com esta chamada de atenção alguém se vai pronunciar sobre o assunto ? (Manda a verdade que se diga que uma das minhas "amigas" se referiu às filosofias de vida : provavelmentene era nisso que estava a pensar.)
Voltando à blogosfera. É muito curioso como em pouco tempo me sinto "aconchegado" por um pequeno círculo de "amigos" que nos entre-comentamos. E não devia dizer "amigos" mas sim "amigas" porque, curiosamente, sâo só mulheres, Não que o tenha feito de propósito. P. ex. estou-me a lembrar dum caso em que pelo perfil , que era nulo, eu nem sequer sabia se era homem ou mulher ao comentar o post que levou ao estabelecimemto do "laço". Noutro caso era um homem, cujo post comentei e que me respondeu. Continuo a "espreitar" o post dele, mas nenhum de nós se sentiu inclinado a "adicionar-se". É verdade que ultimamente deixei de percorrer posts do SAPO à balda a ver o que vem à rede. Mas lá que isto me faz pensar, faz. Talvez tenha que ver com os motivos que levavam, nos tempos áureos, algumas amigas minhas a chamarem-me "feminista honorário"...O que acharão disto as minhas "amigas" do blog ?
Passando à política : estou muito curioso em ver até onde vai o Manuel Alegre. E quanta rédea livre lhe deixa o partido. O meeting (por enquanto prefiro não lhe chamar outra coisa) do Tindade foi uma jogada pesada. Alegre, Roseta e Louçã (mais os restantes...) que futuro ? Segundo li, Saramago desvaloriza -- o que não é de espantar. E os que foram votantes de Alegre nas presidenciais, como estarão a reagir a estas movimentações ? Provavelmente, valerá a pena ver amanhã a entrevista de Judite de Sousa a seguir ao Telejornal.
Quanto ao PSD, só me dá vontade de rir. Nem foi preciso esperar : já cá estão as desavenças. De tão partido não há cola que lhe valha. Nem a da já avó.
Já chega. Vou ver um bocado de AXN para descontrair. Até amanhã-
A julgar pelos comentários, isto de andar "à balda" resulta... Estou noutra noitada (neste momento são 5,30 mais coisa menos coisa).
Mas hoje ando a remoer numa ideia. Em termos imediatos resulta de uma observação de uma "amiga".
Parentesis : é espantoso como a blogosfera passou a ter um lugar tão relevante na minha vida actual. E nem sei se será muito saudável !
Voltando à tal ideia : em palavras simples pode formular-se pela contraposição Ocidente/Oriente. Quem acaso siga o meu blog não se espantará com esta questão, tal tem sido a minha insistência no tema do Dharma. Mas isso não evita que me interrogue sobre até onde é legítimo, apropriado, adequado, pertinente, etc, etc., abordar aqui estas matérias. Em primeiro lugar, em termos "internos" : p.e. um budista é suposto não fazer proselitismo. Isto é : responde, se questionado, mas não faz missionarismo. Em segundo lugar, em termos "externos" : será que do que tenho dito (escrito) resultará algum esclarecimento útil para quem me lê ?
Creio duro como ferro que do conhecimento das sabedorias orientais resultará um enriquecimento notável para as mentes ocidentais (ora aqui está uma boa ocasião para "vender" a minha cultura combinatória, agora à escala civilizacional...). Mas terei "comprador" ? E um blog será um meio oportuno para este fim ?
A Net passa por ser a via aberta para todas as mensagens. Mas como medir a sua eficácia em cada caso ? Pelos comentários ? E quem lê mas não se dá ao trabalho de comentar ?
Retomando a díade Ocidente/Oriente, deixo um desafio a quem acaso me ler : digam-me (se quiserem, bastam duas ou três palavras) se acham que vale a pena continuar a ter nos meus temas o das filosofias de vida (não lhes chamo religiões pelos motivos que estão claros no vídeo do meu post [48] ) orientais.
E agora mudando completemente de assunto : política. (É difícil fugir dele neste fim-de-semana...).
Tive uma interessante troca de ideias com Sofia Loureiro dos Santos (como ainda não aprendi a meter links nos posts resta-me indicar que o seu blog se chama "Defender o Quadrado" e a tal troca está nos comentários ao post "Manipulações" de 31 de Maio).
Coitada da Drª Ferreira Leite... No que ela se foi meter ! Mas merece que se lhe reconheça a coragem. Quando já tem idade para deixar os outros andarem a sacanear-se, vem a terreiro e afronta a tarefa de tentar pôr de pé um partido que não tem ponta por onde se lhe pegue. Quem tem razões para estar contente é Sócrates. E Manuel Alegre que lá vai fazendo as suas movimentações. Quanto a Mário Soares, continua de pedra e cal. E Cavaco Silva, não posso deixar de me espantar com o que ele aprendeu desde a Figueira da Foz -- esperava bem pior.
Quanto a Santana Lopes a única coisa de que gosto nele é continuar a usar a sigla PPD -- nunca consegui engolir que um partido daqueles se intitulasse PSD. É preciso não saber nada de História Política para aceitar o dislate...
Já agora uma sugestão : ponham os jovens a estudar (além do inglês e da informática) um pouco de Ciências Políticas, a ver se, chegada a sua vez, fazem um pouco menos de asneiras que os mais velhos...
Por falar em jovens dou-me conta de que eu próprio caí na pecha que tanto censuro : mencionei mais os partidos do que os cidadãos (felizmente isso não aconteceu na tal troca de ideias que acima referi). Quando são os cidadãos que devem estar no cerne das nossas preocupações políticas. Os partidos, como todos os aparelhos, tendem a olhar para os seus próprios umbigos. As pessoas, para eles, são sobretudo votantes (a propósito : tens as quotas em dia ? estás recenseado ?), quando deveriam ser a primeira e última razões da actividade dos estadistas e outros detentores de cargos políticos. E que tal chamá-las a participar ? Há tanta coisa na "coisa pública" em que de mero objecto se pode passar a sujeito... Bastaria gastar um pouco da imaginação usada nas manobras de bastidores para criar espaços de reflexão e participação directa na resolução de problemas (políticos, pois então).
Também aqui um pouco de sabedoria oriental não faria mal nenhum. Porque, no fundo, é sempre de conhecimento que se trata. E a política exige uma subtileza que se enquadra muito bem nas filosofias do Extremo-Oriente.
Termino com esta nota sobre o conhecimento, no seu sentido mais lato. Porque ele é o alfa e o ómega da Vida.
Na sequência da última frase do meu post [44] pareceu-me oportuno publicar este vídeo muito curto e que acho muito claro.
Se quiser ver outro vídeo sobre o Budismo pode ir ver o meu post [27]. Ou então clique aqui.
Resolvi publicar este post para chamar a atenção para a existência do Instituto Mind and Life. Foi fundado em 1988, para assegurar a organização regular de encontros entre o Dalai Lama e cientistas ocidentais. De resto, esses encontros já vinham tendo lugar, mas um pouco ao sabor das circunstâncias. Assim, alguns dos participantes resolveram, sempre com o acordo do Dalai Lama, criar o que começou por ser o projecto Mind and Life.
O primeiro encontro decorreu em Outubro de 1987, em Dharamsala, na Índia (cidade onde o Dalai Lama tem residência desde que se exilou). Os resultados foram de tal forma encorajadores que se partiu para a criação do Instituto.
Embora tenham sido muitas as colaborações havidas para essa criação, existem dois nomes que é indispensável pôr em realce. Um é o do americano R. Adam Engle. Ele foi o primeiro Presidente do Instituto e teve a seu cargo a complicada organização logística dos encontros. O outro é o do chileno Francisco J. Varela. Doutorado em Biologia por Harvard, especializado em neurobiologia e epistemologia, trabalhando em Paris (C.N.R.S.), coube-lhe a coordenação científica dos trabalhos. Muito conhecido nos meios científicos por causa das suas publicações e dispondo de muitos contactos em várias áreas do conhecimento, ele trabalhou afincadamente para que os encontros Mind and Life fossem um sucesso, bem demonstrado pelos livros a que deram origem. Infelizmente faleceu há pouco, precocemente.
O nome do Instituto foi escolhido cuidadosamente para designar bem a interface, o mais frutuosa possível, entre a ciência ocidental e a tradição búdica. Dada a sua natureza, não é de espantar que os primeiros encontros recoressem sobretudo a especialistas das neurociências (o "nosso" António Damásio participou num deles) e das chamadas ciências cognitivas. Pouco a pouco os temas foram mudando e, a partir de certa altura, além dos filósofos, dos psicólogos, dos psicanalistas, dos linguistas ou dos antropólogos, encontravam-se também especialistas em astrofísica, em cosmologia ou em física quântica. No fundo, nenhuma área é dispensável quando, como disse o Dalai Lama num dos encontros, «(...) nós não aderimos ao sentido literal das palavras de Buda quando elas são refutáveis por uma prova válida».
Aqui convirá apontar duas precisões semânticas : a primeira é búdica, a segunda é ocidental. A búdica tem a ver com a palavra , em sânscrito, dharma. O termo é altamente polissémico : tanto significa o ensinamento (o Dharma do Buda), como o conhecimento ou a sabedoria, como ainda a via, o caminho, para os alcançar. E poderíamos continuar...
A segunda remete para um problema relativo ao francês. Com efeito, eles não têm substantivo para o nosso mente (ou o inglês mind). O equivalente francês é esprit. Existe o adjectivo mental (que, por vezes, é substantivado), mas o que é corrente é usarem a palavra esprit. Assim não podem distinguir entre mente e espírito. O que, quando está em causa o budismo, é particularmente lastimável. Voltando a citar um Lama (que, entretanto, foi "promovido" a Rimpoché -- para quem sabe o que isto significa...) : « O budismo não é materialista nem espiritulista, é realista e experimental ».
Completo com : no budismo não há credo, nem dogma, nem Deus.
Quando os físicos começaram a explorar os fenômenos atômicos no início do século, ficou-lhes dolorosamente claro que todos os conceitos e teorias que usamos para descrever a natureza são limitados. Por causa das limitações essenciais da mente racional, temos de aceitar o fato de que, nas palavras de Heisenberg, "toda palavra ou conceito, por mais claros que possam parecer, possuem apenas uma gama limitada de aplicabilidade". As teorias científicas jamais poderão oferecer uma descrição completa e definitiva da realidade. Serão sempre aproximações da verdadeira natureza das coisas. Em palavras mais duras, os cientistas não lidam com a verdade ; lidam com descrições limitadas e aproximadas da realidade.
Fritjof CAPRA, Sabedoria Incomum.
( Nota : utilizei a grafia e a sintaxe da tradução brasileira de que me servi.)
"O mapa não é o território."
Alfred KORZYKBSKI
"A sabedoria consiste em compreender as nossas limitações."
Carl SAGAN
"Dá menos importância à pessoa do que ao que ela ensina."
O concreto é o abstracto
tornado familiar pelo uso.
PAUL LANGEVIN
Os sistemas não estão na natureza,
eles estão no espírito dos homens.
CLAUDE BERNARD
O texto que se segue, e que uso como pretexto para um debate, tem tido uma vida atribulada. Escrito em Maio de 2000, começou por ser uma nota de rodapé, de cinco linhas. para comentar um termo que se me deparou, ao consultar, quase por acaso, um autor pouco conhecido, Roberto Crema, num livro que me veio parar às mãos com a indicação de nele procurar certas passagens. O termo era transmodernidade [Roberto CREMA (1995), Saúde e Plenitude; São Paulo,Summus : passim]. Coisa puxa coisa, ideia puxa ideia, e aquela nota de rodapé ao fim de três dias (ia-lhe mexendo ao mesmo tempo que avançava no artigo principal) tinha 25 linhas. Tinha ganhado vida própria, tinha-se tornado muito complexa (podiam corresponder-lhe 28 palavras-chave) e, assim, já não servia o seu propósito inicial. (Foi substituída, no seu artigo de origem, por uma pequena nota sem qualquer relevância.)
O que fazer dela? Fi-la circular por alguns amigos e deles recebi as reacções mais díspares.Passaram anos e a nota ficou na gaveta. Até que, recentemente, a reencontrei com agrado, porque nela tinha condensado (ultra-condensado, e por isso ela é de difícil leitura) muitas das minhas preocupações epistemológicas da época. Inpublicável tal como está, aproveito agora a (para mim muito recente) liberdade da "blogosfera" para a dar a conhecer a mais pessoas e para suscitar um debate (daí o título) sobre o conteúdo deste texto.
O TEXTO/PRETEXTO
O ponto de partida é o termo transmodernidade. Não é este o local para me situar na querela modernidade vs. pós-modernidade.Cinjo-me, aqui, a indicar que a noção de transmodernidade sustenta um nexo de circularidade acausal com a postura transdisciplinar.
(Tais procedimentos podem utilizar proficuamente as virtualidades heurísticas das explorações semânticas e hermenêuticas, incluindo os jogos lexicais , e constituem portas para novos discernimentos epistémicos .)
Esta posição parece-me consentânea com a tese que postulo desde 1964 de que o real é, primordialmente ,magmático ( o que, diga-se, leva, por efeito da re-colocação das problemáticas da complexidade / caos , a situações quase-aporéticas em matérias do foro da validade externa , e a repensar temas como os da verosimilhança ou da falsificabilidade , transcendendo as concepções correntes da epistemologia mainstream ).
E, por isso mesmo , me parece que os diferentes níveis / tipos da realidade ou as diferentes realidades , sem esquecer , como é óbvio , os planos do imaginário , do simbólico e do sagrado ( e a intelecção do uno e da totalidade ) relevam não só do enigmático como do paradoxal , e são incomensuravelmente inacessíveis , dadas as limitações antropológicas do campo da cognição ( ainda que expandida ), mesmo com o desejável recurso a ( e confronto com ) sabedorias acientíficas , características daquilo mesmo a que chamo "transdisciplinaridade alargada".
Estas são questões complexas , que aqui apenas foram afloradas e que requerem largos desenvolvimentos. É o que farei quando as circunstâncias o proporcionarem.
CODA
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