"Há cidades cor de pedra" :
Há cidades cor de pérola onde as mulheres
existem velozmente. Onde
às vezes param, e são morosas
por dentro. Há cidades absolutas,
trabalhadas interiormente pelo pensamento
das mulheres.
Lugares límpidos e depois nocturnos,
vistos ao alto como um fogo antigo,
ou como um fogo juvenil.
Vistos fixamente abaixados nas águas
celestes.
Há lugares de um esplendor virgem,
com mulheres puras cujas mãos
estremecem. Mulheres que imaginam
num supremo silêncio, elevando-se
sobre as pancadas da minha arte interior.
Há cidades esquecidas pelas semanas fora.
Emoções onde vivo sem orelhas
nem dedos. Onde consumo
uma amizade bárbara. Um amor
levitante. Zona
que se refere aos meus dons desconhecidos.
Há fervorosas e leves cidades sob os arcos
pensadores. Para que algumas mulheres
sejam cândidas. Para que alguém
bata em mim no alto da noite e me diga
o terror de semanas desaparecidas.
Eu durmo no ar dessas cidades femininas
cujos espinhos e sangues me inspiram
o fundo da vida.
Nelas queimo o mês que me pertence.
o minha loucura, escada
sobre escada.
MuIheres que eu amo com um des-
espero fulminante, a quem beijo os pés
supostos entre pensamento e movimento.
Cujo nome belo e sufocante digo com terror,
com alegria. Em que toco levemente
Imente a boca brutal.
Há mulheres que colocam cidades doces
e formidáveis no espaço, dentro
de ténues pérolas.
Que racham a luz de alto a baixo
e criam uma insondável ilusão.
Dentro de minha idade, desde
a treva, de crime em crime - espero
a felicidade de loucas delicadas
mulheres.
Uma cidade voltada para dentro
do génio, aberta como uma boca
em cima do som.
Com estrelas secas.
Parada.
Subo as mulheres aos degraus.
Seus pedregulhos perante Deus.
É a vida futura tocando o sangue
de um amargo delírio.
Olho de cima a beleza genial
de sua cabeça
ardente: - E as altas cidades desenvolvem-se
no meu pensamento quente.
Herberto Helder
Lugar
Poesia Toda
Assírio & Alvim
1979
Imagem por American Modernist School,
“Woman Surrounded by Buildings”,
Hoje estou muito preguiçoso. Não dá para acrescentar nem imagens nem texto. Vai só o meu caro Keith Jarrett.:
[ Life (Köln Konzert) (5:21)] :
Mas, já agora, vai também o"Rider" (1985) (5:09), até porque é um expoente no jeito muito peculiar que Jarrett tem de estar ao piano :
E, afinal, acabo com um quadro de Eduardo Batarda, "Nothing Really", de 1997 :
:
Tentei acrescentar as imagens destes quadros ao primeiro SlideShow. Não consegui (creio que estava "lotação esgotada"...). De modo que aqui vai estoutro :
Procurei-os por causa do blog francês. Queria ilustrar com a imagem dum torso feminino o poema de Herberto Helder que estou a apresentar lá. E queria um autor português. Procurei pintores e apareceu-me uma fotografia. Nada contra. Pelo meio, entre muitas outras coisas, apareceram-me mais duas imagens que guardei no computador. Não resisto a apresentar essa tríade também aqui (não são todos os meus leitores portugueses que vão espreitar o meu blog francês...). Eis pois :
Arlindo Pinto, Lady Jane, 01/03/2008.
Para continuar, uma serigrafia(70x50 cm), A Modelo, de um italiano radicado no Brasil, Enrico Bianco (nascido em 1918) :
E, para acabar, um quadro extremamente conhecido de Modigliani (1884-1920), Nu reclinado, 1917, o/t, 60,6x92,7 cm :
Há muito tempo que não ponho pintura aqui. Lembrei-me disso hoje porque, no blog francês, dentro da ideia de divulgar lá a pintura portuguesa, fiz mais um post sobre um dos pintores mais "parisienses". Com efeito, Eduardo Luiz (1932-1988) viveu 30 anos em Paris. Foi para lá exilado, como tantos outros, e por lá ficou.
Não éramos amigos íntimos. Conheciamo-nos por fazermos parte do mesmo grupo político. Mas ele era um solitário, mesmo em termos de pintura. Há quem o situe na "nova figuração". Seja como for, o seu percurso foi muito pessoal. O melhor é apresentar um quadro dele :
"A grande lousa", 1966, o/t, 97x130 cm.
Nascido em Lisboa em 1953, aqui vive e trabalha.
A minha intenção era seguir a "receita" da cara amiga MDOSOL : quadro + poema + música (vídeo sem imagem, a não ser em "full screen"). Mas acontece que o Sapo não aceita o "embed", só aceita o URL. De modo que emigrei para o meu blog francês, onde fiz o qe queria. Quem quiser ver o resultado pode ir lá dar uma espreitadela (transdisciplinaire.over-blog.com/).
Entretanto, e até para não perder todo o trabalho tido, fica aqui a reproduçao dum quadro do Escada. ( fomos amigos de juventude -- nascemos no mesmo ano -- cá e depois em Paris). Ele morreu precocemente em 1980.
S/ título, 1965, óleo s/ tela, 38x45, col. privada.
Quem leu o meu post [49} estará eventualmente lembrado das minhas desventuras para encontrar na Net fotografias de quadros do Ricardo. Falei com ele e ele deu-me um CD com fotografias de 3 quadros da sua última exposição na Gulbenkian. Título genérico : "Paisagens Múltiplas". Devo dizer que ver as fotografias, no formato que se pode publicar aqui, foi uma grande desilusão para quem, como eu, viu a exposição. Não é só a questão do formato. Há o problema da cor. que na exposição era perfeitamente adequada ao tema, mas que aqui não resulta nada bem. De qualquer forma, aqui ficam as fotografias.
Nem sei se diga que é tarde ou que é cedo. Se me reportar ao dia 30 é tardíssimo. Se me reportar a 31 ainda é cedo. A verdade é que ainda não me deitei. Fiquei a ver televisão até à meia-noite, depois vim para o computador para a rotina do costume : ver os mails, dos profissionais anotar uns e apagar outros, ver os comentários dos "amigos" mais os respectivos posts, responder ou comentar quando era caso disso (num ou noutro caso com maior atenção se ela era necessária), enfim fiz o que suponho que toda a gente faz.
Um interregno, pelo sim, pelo não : nem sei se chegarei a publicar isto. É a primeira vez que escrevo um post sem saber o que nele quero meter (por isso lhe dei como título -- provisório (?) -- "À balda"...).
Depois (não tinha sono e não me apetecia deitar-me) fiquei por aqui, entre a biblioteca, onde está o computador, e a sala da televisão onde muitas vezes escrevo, mesmo na mesa baixa , quando não se trata de textos que requeiram particular cuidado.
Ainda pensei escrever um novo post. Mas não me apetecia agarrar de novo a "cultura combinatória", em que acho que as coisas não me têm saído muito bem. E só de pensar no monte de notas que ainda tenho sobre o assunto e no que isso representa em termos de tamanho do "folhetim", dá logo para ficar enfastiado. De modo que essa ideia foi posta de lado in limine. Quanto a voltar ao Dharma, que só por si dá pano para mangas, achei que dois posts seguidos sobre o mesmo tema era abusar da paciência dos leitores, que não têm culpa nenhuma das minhas preocupações sobre as filosofias de vida.
Por essa altura, e passados já vários descafeinados e uma semi-ceia improvisada, surgiram-me duas ideias muito diferentes entre si. A primeira tinha a ver com eu e a política. Acho que me foi suscitada por alguns dos posts de Sofia Loureiro dos Santos (que por vezes comento) e que, tendo variadas vezes como tags política e sociedade me colocam perante um duplo desafio : como sociólogo, por causa da "sociedade", e como animal político pelos motivos óbvios. Já volto a esse assunto.
A segunda ideia era a de, já que não me apetecia escrever, "postar" mais uma fotografia dum quadro. Mas embiquei com a tineta de que (tal como fiz com o Jorge Martins) tinha que ser de um amigo do peito. Ora, de entre os pintores, qual mais próximo que o Ricardo Cruz-Filipe (como ele agora escreve). Conhecemo-nos aos 10 anos, no Liceu Camões, da mesma turma e amigos íntimos, entrámos ao meso tempo no Técnico, fui ao casamento dele em Paris, e ainda hoje mantemos um contacto regular e estreito. Da qualidade dele como pintor (para quem não o conheça) diz bem o facto de que, tendo ele decidido oferecer um quadro seu à Cinemateca, o nosso comum amigo João Bénard da Costa não só acolheu a ideia de braços abertos como assegurou a presença do Ministro da Cultura na cerimónia de entrega do quadro.
Portanto, quadro do Ricardo. Aí é que foram elas. Gastei horas à procura na Internet. Até fui ver livros à procura de motores de pesquisa. Biografia dele, carreira académica e profissional, exposições, catálogos, tudo bem. Quadros, só encontrei um, dos anos 60, que já não tem nada a ver com o que ele fez nos anos recentes. Estava fora de questão publicá-lo. E assim vim parar a este texto "à balda"...
Ficou lá mais para trás um dica sobre a política. Já estou cansado em demasia para me explicar devidamente sobre o assunto. Mas tomei algumas notas sobre isso e, um dia destes, agarro mesmo a questão. Que é, muito sucintamente : porque é que eu (que, enquanto novo, fui muito mais um activista politico-associativo do que um estudante, e mantive sempre contactos e actividades políticas e cívicas até ao 25 de Abril -- o que,de resto, paguei caro) agora não milito activamente em nada e até me dá um certo enfado olhar para o panorama político actual. Prometo voltar ao assunto em breve.
Por hoje, fico-me por aqui.
Sem título, 1986, óleo s/ tela, 185x150cm.
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