[NOTA : ao passar este texto do programa em que inicialmente o escrevi para aqui resultaram infrutíferas todas as tentativas, muitas, para conservar devidamente os dois tamanhos de letras que utilizei (texto principal e notas). Além disso, ocorreram mudanças de linha fora de propósito, perda de parágrafos, etc.. Cansado de tantos insucessos, resolvi publicar o texto assim mesmo. Peço ao leitor a paciência de imaginar como ele seria sem estes percalços.]
(Continuação)
É a altura de retomar o folhetim. Hoje vou relacionar a C.C. com uma noção central nas várias vertentes das Ciências Sociais e Humanas : a de aprendizagem. Mas antes uma advertência.
[Como não sei meter notas de rodapé nos textos do computador, vou utilizar, como estou a fazer neste momento, notas entre [ ] e em letra mais pequena, intercaladas no próprio texto principal.]
Se recuarem até ao p. [32] : C.C. (3) [no folhetim, vou passar a designar os posts simplesmente por p. -- creio que não haverá confusão com página, também designada habitualmente por p. , porque o contexto se encarregará de a evitar ] verão que nele refiro dois exemplos de questões em que se pode aplicar o conceito de C.C. : a educação e as migrações. É óbvio que as combinatórias culturais em causa nas duas situações não são idênticas. A diferença resulta essencialmente do grau de formalização dos dois processos, muito grande, comparativamente, no caso do ensino escolar e muito escasso (mesmo quando se recorre a aulas de português para estrangeiros) no caso da combinatória cultural dos imigrantes.
.[Aqui não resisto a indicar um livro seminal, que trata da controvérsia entre dois gigantes: PIAGET e CHOMSKY. A referência é Centre Royaumont pour une science de l’homme, Théories du langage, théories de l’apprentissage.]
Aprendizagem, portanto. O que traz como consequência que, ao falar de CC. CC. se não pode esquecer tudo aquilo que se sabe acerca dos mecanismos da aprendizagem. Dir-me-ão : porquê, então, usar um conceito diferente ? [Sobre a noção de aculturação já me expliquei brevemente no C.C.(2). O que não quer dizer que não volte a ela mais adiante} Porque é necessário não perder de vista o carácter muito abrangente e sistémico da noção de cultura : trata-se de um “conjunto ligado” de maneiras de pensar, sentir e agir.
Para dar um exemplo dessa abrangência, podemos recorrer de novo à temática da educação. Com efeito é frequente, quando se fala dos mecanismos de ensino/aprendizagem, recorrer-se, no calão académico, ao "sistema KSA" (entenda-se knowledge, skills and attitudes). Por aqui se vê que, se o processo educativo faz certamente parte do sistema cultural, este é mais vasto do que aquele e bastante mais complexo.
De resto, a noção de cultura, neste sentido antropo-sociológico do termo, já entrou na linguagem corrente. Veja-se, p. e., a forma como neste momento se fala de “cultura de empresa” [embora, em rigor, nesse caso, se devesse falar de sub-cultura e não de cultura -- mas deixemos essa distinção para outra ocasião]. E variados textos sobre educação, nomeadamente quando abordam problemáticas ligadas às comunidades migrantes ou a outras minorias étnicas, referem-se ao multiculturalismo e/ou ao interculturalismo, envolvendo, quer a cultura nesse sentido, quer, como não podia deixar de ser, toda a vasta gama de questões relativas à aprendizagem, para as quais hoje chamei a atenção.
Recue-se até à socialização infantil. Ela, que começa ao nascer, é desde o início uma combinatória cultural. De início com os pais ou a família mais próxima, depois com a creche, o infantário, o pré-escolar, a escola (não me estou a esquecer de quem diz que a escola serve não para aprender mas sim para desaprender…) os resultados vão sendo sempre múltiplos estados de C.C., em que vão variando os factores em jogo no processo. Estes, como é óbvio, não são só culturais. Mas que estes estão sempre presentes lá isso estão. E formam uma combinatória porque são sistémicos.
Terminando, por hoje. Todo o nosso quotidiano está recheado de combinatórias. A maior parte das vezes são micro. Mas nem sempre assim é.
(Continua)
CULTURA COMBINATÓRIA (2)
(Venho dar continuação ao post anterior com o mesmo título, que deixei incompleto por falta de tempo.)
Antes de mais, é importante salientar que o conceito (o par conceptual) em questão não nasceu de uma elucubração em gabinete fechado, mas sim da necessidade de reformular o plano de análise de um projecto de investigação-acção, à medida que a equipa se via confrontada com os resultados das primeiras entrevistas aprofundadas efectuadas com intuitos exploratórios.
( Este post já vai demasiadamente longo. Fica para um próximo acrescentar algo sobre os desenvolvimentos e aplicações. Até breve)
José-Carlos Ferreira de Almeida
CULTURA COMBINATÓRIA
Trata-se de propor um conceito – aliás uma díade conceptual – que, que eu saiba, não foi até aqui usada no meu campo, que é o das Ciências Sociais e Humanas.
Sobre a noção de “cultura” não tenho nada de novo a dizer. Utilizo-a no seu sentido corrente em antropo-sociologia. Remeto o leitor para a definição que dela dá Guy Rocher no seu muito conhecido livro de referência sobre sociologia geral. Quando muito poderei acrescentar que a equipa (que mais adiante mencionarei) no seio da qual vim a alvitrar a adopção desta noção – o que foi aceite após larga discussão sobre várias alternativas – se enquadrava conceptualmente na noção de “dinâmica cultural”, cara a Paul-Henri Chombart de Lauwe, mentor da A.R.C.I. (Association de Recherche Coopérative Internationale), instituição que patrocinava,à época, estudos em vários países sobre o tema genérico dos “novos laços sociais”.
Quanto à “combinatória”, a inspiração foi claramente matemática. Estava em causa a análise combinatória e, por arrastamento a teoria dos conjuntos (mas não define Guy Rocher a cultura como um conjunto ligado – ou seja, um sistema, o que nos levaria à teoria dos sistemas, mas não é esse aqui o meu propósito -- ?).
Voltemos à díade. Ela consiste em “cultura(s) combinatória(s) / combinatórias culturais”. Não se trata de um simples jogo lexical de substantivação/adjectivação. As duas noções estão unidas por um nexo de causalidade circular, já que representam as vertentes sincrónica e diacrónica de uma mesma realidade. Com efeito – embora isso seja mais evidente nuns casos do que noutros e era-o muito particularmente naquele que deu origem à proposta em jogo – qualquer cultura (sincronicamente) é combinatória no sentido de que é a resultante do processo (diacrónico) de uma combinatória cultural.
(Fico-me por aqui hoje e deixo para amanhã ou um dia próximo a explanação da génese e de exemplos de aplicações da “cultura combinatória”).
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