A julgar pelos comentários, isto de andar "à balda" resulta... Estou noutra noitada (neste momento são 5,30 mais coisa menos coisa).
Mas hoje ando a remoer numa ideia. Em termos imediatos resulta de uma observação de uma "amiga".
Parentesis : é espantoso como a blogosfera passou a ter um lugar tão relevante na minha vida actual. E nem sei se será muito saudável !
Voltando à tal ideia : em palavras simples pode formular-se pela contraposição Ocidente/Oriente. Quem acaso siga o meu blog não se espantará com esta questão, tal tem sido a minha insistência no tema do Dharma. Mas isso não evita que me interrogue sobre até onde é legítimo, apropriado, adequado, pertinente, etc, etc., abordar aqui estas matérias. Em primeiro lugar, em termos "internos" : p.e. um budista é suposto não fazer proselitismo. Isto é : responde, se questionado, mas não faz missionarismo. Em segundo lugar, em termos "externos" : será que do que tenho dito (escrito) resultará algum esclarecimento útil para quem me lê ?
Creio duro como ferro que do conhecimento das sabedorias orientais resultará um enriquecimento notável para as mentes ocidentais (ora aqui está uma boa ocasião para "vender" a minha cultura combinatória, agora à escala civilizacional...). Mas terei "comprador" ? E um blog será um meio oportuno para este fim ?
A Net passa por ser a via aberta para todas as mensagens. Mas como medir a sua eficácia em cada caso ? Pelos comentários ? E quem lê mas não se dá ao trabalho de comentar ?
Retomando a díade Ocidente/Oriente, deixo um desafio a quem acaso me ler : digam-me (se quiserem, bastam duas ou três palavras) se acham que vale a pena continuar a ter nos meus temas o das filosofias de vida (não lhes chamo religiões pelos motivos que estão claros no vídeo do meu post [48] ) orientais.
E agora mudando completemente de assunto : política. (É difícil fugir dele neste fim-de-semana...).
Tive uma interessante troca de ideias com Sofia Loureiro dos Santos (como ainda não aprendi a meter links nos posts resta-me indicar que o seu blog se chama "Defender o Quadrado" e a tal troca está nos comentários ao post "Manipulações" de 31 de Maio).
Coitada da Drª Ferreira Leite... No que ela se foi meter ! Mas merece que se lhe reconheça a coragem. Quando já tem idade para deixar os outros andarem a sacanear-se, vem a terreiro e afronta a tarefa de tentar pôr de pé um partido que não tem ponta por onde se lhe pegue. Quem tem razões para estar contente é Sócrates. E Manuel Alegre que lá vai fazendo as suas movimentações. Quanto a Mário Soares, continua de pedra e cal. E Cavaco Silva, não posso deixar de me espantar com o que ele aprendeu desde a Figueira da Foz -- esperava bem pior.
Quanto a Santana Lopes a única coisa de que gosto nele é continuar a usar a sigla PPD -- nunca consegui engolir que um partido daqueles se intitulasse PSD. É preciso não saber nada de História Política para aceitar o dislate...
Já agora uma sugestão : ponham os jovens a estudar (além do inglês e da informática) um pouco de Ciências Políticas, a ver se, chegada a sua vez, fazem um pouco menos de asneiras que os mais velhos...
Por falar em jovens dou-me conta de que eu próprio caí na pecha que tanto censuro : mencionei mais os partidos do que os cidadãos (felizmente isso não aconteceu na tal troca de ideias que acima referi). Quando são os cidadãos que devem estar no cerne das nossas preocupações políticas. Os partidos, como todos os aparelhos, tendem a olhar para os seus próprios umbigos. As pessoas, para eles, são sobretudo votantes (a propósito : tens as quotas em dia ? estás recenseado ?), quando deveriam ser a primeira e última razões da actividade dos estadistas e outros detentores de cargos políticos. E que tal chamá-las a participar ? Há tanta coisa na "coisa pública" em que de mero objecto se pode passar a sujeito... Bastaria gastar um pouco da imaginação usada nas manobras de bastidores para criar espaços de reflexão e participação directa na resolução de problemas (políticos, pois então).
Também aqui um pouco de sabedoria oriental não faria mal nenhum. Porque, no fundo, é sempre de conhecimento que se trata. E a política exige uma subtileza que se enquadra muito bem nas filosofias do Extremo-Oriente.
Termino com esta nota sobre o conhecimento, no seu sentido mais lato. Porque ele é o alfa e o ómega da Vida.
[NOTA : ao passar este texto do programa em que inicialmente o escrevi para aqui resultaram infrutíferas todas as tentativas, muitas, para conservar devidamente os dois tamanhos de letras que utilizei (texto principal e notas). Além disso, ocorreram mudanças de linha fora de propósito, perda de parágrafos, etc.. Cansado de tantos insucessos, resolvi publicar o texto assim mesmo. Peço ao leitor a paciência de imaginar como ele seria sem estes percalços.]
(Continuação)
É a altura de retomar o folhetim. Hoje vou relacionar a C.C. com uma noção central nas várias vertentes das Ciências Sociais e Humanas : a de aprendizagem. Mas antes uma advertência.
[Como não sei meter notas de rodapé nos textos do computador, vou utilizar, como estou a fazer neste momento, notas entre [ ] e em letra mais pequena, intercaladas no próprio texto principal.]
Se recuarem até ao p. [32] : C.C. (3) [no folhetim, vou passar a designar os posts simplesmente por p. -- creio que não haverá confusão com página, também designada habitualmente por p. , porque o contexto se encarregará de a evitar ] verão que nele refiro dois exemplos de questões em que se pode aplicar o conceito de C.C. : a educação e as migrações. É óbvio que as combinatórias culturais em causa nas duas situações não são idênticas. A diferença resulta essencialmente do grau de formalização dos dois processos, muito grande, comparativamente, no caso do ensino escolar e muito escasso (mesmo quando se recorre a aulas de português para estrangeiros) no caso da combinatória cultural dos imigrantes.
.[Aqui não resisto a indicar um livro seminal, que trata da controvérsia entre dois gigantes: PIAGET e CHOMSKY. A referência é Centre Royaumont pour une science de l’homme, Théories du langage, théories de l’apprentissage.]
Aprendizagem, portanto. O que traz como consequência que, ao falar de CC. CC. se não pode esquecer tudo aquilo que se sabe acerca dos mecanismos da aprendizagem. Dir-me-ão : porquê, então, usar um conceito diferente ? [Sobre a noção de aculturação já me expliquei brevemente no C.C.(2). O que não quer dizer que não volte a ela mais adiante} Porque é necessário não perder de vista o carácter muito abrangente e sistémico da noção de cultura : trata-se de um “conjunto ligado” de maneiras de pensar, sentir e agir.
Para dar um exemplo dessa abrangência, podemos recorrer de novo à temática da educação. Com efeito é frequente, quando se fala dos mecanismos de ensino/aprendizagem, recorrer-se, no calão académico, ao "sistema KSA" (entenda-se knowledge, skills and attitudes). Por aqui se vê que, se o processo educativo faz certamente parte do sistema cultural, este é mais vasto do que aquele e bastante mais complexo.
De resto, a noção de cultura, neste sentido antropo-sociológico do termo, já entrou na linguagem corrente. Veja-se, p. e., a forma como neste momento se fala de “cultura de empresa” [embora, em rigor, nesse caso, se devesse falar de sub-cultura e não de cultura -- mas deixemos essa distinção para outra ocasião]. E variados textos sobre educação, nomeadamente quando abordam problemáticas ligadas às comunidades migrantes ou a outras minorias étnicas, referem-se ao multiculturalismo e/ou ao interculturalismo, envolvendo, quer a cultura nesse sentido, quer, como não podia deixar de ser, toda a vasta gama de questões relativas à aprendizagem, para as quais hoje chamei a atenção.
Recue-se até à socialização infantil. Ela, que começa ao nascer, é desde o início uma combinatória cultural. De início com os pais ou a família mais próxima, depois com a creche, o infantário, o pré-escolar, a escola (não me estou a esquecer de quem diz que a escola serve não para aprender mas sim para desaprender…) os resultados vão sendo sempre múltiplos estados de C.C., em que vão variando os factores em jogo no processo. Estes, como é óbvio, não são só culturais. Mas que estes estão sempre presentes lá isso estão. E formam uma combinatória porque são sistémicos.
Terminando, por hoje. Todo o nosso quotidiano está recheado de combinatórias. A maior parte das vezes são micro. Mas nem sempre assim é.
(Continua)
CULTURA COMBINATÓRIA (2)
(Venho dar continuação ao post anterior com o mesmo título, que deixei incompleto por falta de tempo.)
Antes de mais, é importante salientar que o conceito (o par conceptual) em questão não nasceu de uma elucubração em gabinete fechado, mas sim da necessidade de reformular o plano de análise de um projecto de investigação-acção, à medida que a equipa se via confrontada com os resultados das primeiras entrevistas aprofundadas efectuadas com intuitos exploratórios.
( Este post já vai demasiadamente longo. Fica para um próximo acrescentar algo sobre os desenvolvimentos e aplicações. Até breve)
José-Carlos Ferreira de Almeida
CULTURA COMBINATÓRIA
Trata-se de propor um conceito – aliás uma díade conceptual – que, que eu saiba, não foi até aqui usada no meu campo, que é o das Ciências Sociais e Humanas.
Sobre a noção de “cultura” não tenho nada de novo a dizer. Utilizo-a no seu sentido corrente em antropo-sociologia. Remeto o leitor para a definição que dela dá Guy Rocher no seu muito conhecido livro de referência sobre sociologia geral. Quando muito poderei acrescentar que a equipa (que mais adiante mencionarei) no seio da qual vim a alvitrar a adopção desta noção – o que foi aceite após larga discussão sobre várias alternativas – se enquadrava conceptualmente na noção de “dinâmica cultural”, cara a Paul-Henri Chombart de Lauwe, mentor da A.R.C.I. (Association de Recherche Coopérative Internationale), instituição que patrocinava,à época, estudos em vários países sobre o tema genérico dos “novos laços sociais”.
Quanto à “combinatória”, a inspiração foi claramente matemática. Estava em causa a análise combinatória e, por arrastamento a teoria dos conjuntos (mas não define Guy Rocher a cultura como um conjunto ligado – ou seja, um sistema, o que nos levaria à teoria dos sistemas, mas não é esse aqui o meu propósito -- ?).
Voltemos à díade. Ela consiste em “cultura(s) combinatória(s) / combinatórias culturais”. Não se trata de um simples jogo lexical de substantivação/adjectivação. As duas noções estão unidas por um nexo de causalidade circular, já que representam as vertentes sincrónica e diacrónica de uma mesma realidade. Com efeito – embora isso seja mais evidente nuns casos do que noutros e era-o muito particularmente naquele que deu origem à proposta em jogo – qualquer cultura (sincronicamente) é combinatória no sentido de que é a resultante do processo (diacrónico) de uma combinatória cultural.
(Fico-me por aqui hoje e deixo para amanhã ou um dia próximo a explanação da génese e de exemplos de aplicações da “cultura combinatória”).
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