Por causa das referências ao meu Pai no meu post de ontem, resolvi ir ver o que havia na Net sobre anarco-sindicalismo. E então não é que ainda se publica em Portugal um Boletim Anarco-Sindicalista (último nº : Julho deste ano), orgão da Secção Portuguesa da Associação Internacional dos Trabalhadores (vulgo Primeira Internacional) ? Fundada por Marx, como se sabe (felizmente ainda não havia leninismo...).
Pesquisei mais. A Associação já só existe num número reduzido de paises. Mas mantém um Secretariado Internacional. Estive a ler alguna textos básicos. E deu para entender o meu pendor libertário.
Parêntesis : para quem não viu o meu post {53} aqui fica o meu political compass (e o link se o quiserem fazer) :
Pois é : o meu Pai nunca me endoutrinou. Mas, a partir duma certa idade, deixava-me assistir às conversas não-conspirativas que tinha com alguns amigos. Muito provavelmente não entendia muito do que era dito. Mas certamente vivi isso como uma demonstração de proximidade e de confiança do meu Pai.
Para mim, muito novo, a minha Mãe era a cultura (o francês, o piano, a leitura...) e as maneiras. Mas a política (e o ateísmo) eram o meu Pai.
Vá-se lá saber o que teria sido de outro modo...
Um dia destes, quando me der pr'aí, contacto a Secção Portuguesa da AIT e vejo em que param as modas por essas bandas...
A noitada de há dois dias terminou numa "directa". E, pelo que vejo, hoje vou reincidir. São 8,15 h. da manhã, ainda não me deitei, e a minha disposição, neste momento, é para continuar de pé. (diz-se de pé ou a pé ? já nem sei...-- deve ser o resultado de andar a escrever em duas línguas..). Já tinha considerado uma vitória conseguir pôr o sono em ordem, i. e. nem ter insónias, nem dormir horas de mais, nem levantar-me muito tarde -- em que fase estarei a entrar agora ? Se conseguir chegar a um horário "normal", mas curto, dou-me por muito satisfeito ! É mais tempo que fica para tudo o que me dê na gana fazer.
Hoje (ontem) bati o meu recorde anterior da páginas vistas num só dia no blog francês : 123 . Mas o contador de visitas por países mostra-me que continuo a ter mais visitas portuguesas do que francesas ( há outros países -- lá mais do que no português, o que é normal -- mas com valores relativamente pequenos ). Mas comentários de cá, nada. Que raio é que se passa ? Vão ler-me mas não me comentam. Porquê ? Não quererá ninguém dar a cara e explicar-me ? Ao menos um testemunho !...
O blog francês tem tido, quanto mais não seja, uma utilidade : tenho aumentado a minha cultura sobre autores portugueses. Como faço questâo de serem portugueses os artistas plásticos, os poetas e os músicos que apresento lá, tenho andado às voltas com a Wikipédia, com o Google, com o YouTube e não sei mais quantos sítios para encontrar as referências correctas dos ditos autores. Até já fui desencantar e comprar livros de propósito. E estou contente com isso. Dou por bem empregue o meu tempo e o meu trabalho ! Não só divulgo mas também aprendo.
E por aqui me fico agora. Quite a acrescentar algo mais tarde ou a escrever outro post, se for caso disso.
È necessário pensar cicularmente que a sociedade faz a linguagem que faz a sociedade, que o homem faz a linguagem que faz o homem, que o homem fala a linguagem que o fala.
(---)
A neuro-linguística, a neuro-psicologia (...), a socio-linguística mostram-nos a profundidade, a radicalidade, a complexidade do laço entre a linguagem, o aparelho neuro-cerebral, o psiquismo humano, a cultura, a sociedade...
A linguagem depende das interacções entre indivíduos, as quais dependem da linguagem. Ela depende das mentes humanas, as quais dependem dela para emergir enquanto espíritos. É portanto necessariamente que a linguagem deve ser concebida ao mesmo tempo como autónoma e dependente.
(...)
(...) as palavras usuais são possémicas, isto é comportam na sua maioria uma pluralidade de sentidos diferentes que se encavalitam produzindo como franjas de interferência (metáfora que nos reenvia de novo ao holograma) ; segundo o contexto (da situação, do discurso, da frase), um dos seus sentidos exclui os outros e vem impor-se no enunciado ; uma vez mais, é o todo que contribui para dar sentido à parte, a qual contribui para dar sentido ao todo.
(...)
A linguagem está em nós e nós estamos na linguagem. Nós fazemos a linguagem que nos faz. Nós estamos, em e pela linguagem, abertos pelas palavras, fechados nas palavras, abertos sobre outrem (comunicação), fechados sobre o outro (mentira, erro), abertos sobre as ideias, encerrados nas ideias, abertos sobre o mundo,fechados ao mundo. Encontramos o paradoxo cognitivo maior : estamos fechados pelo que nos abre e abertos pelo que nos fecha.
(Edgar MORIN, La Méthode, 4. Les Idées.)
A aparência da verdade absoluta não é senão o resultado dum conformismo absoluto.
Paul FEYERABEND, Against Method : Outline of an Anarchist Theory of Knowledge.
(...) um complexo de determinações socio-noo-culturais concentra-se para impor a evidência, a certeza, a prova da verdade daquilo que obedece ao imprinting e à norma.
Edgar MORIN, La Méthode, 4. Les Idées.
Não tenho tido paciência para continuar a escrever sobre CULTURA COMBINATÓRIA. E digo continuar porque a ideia era fazer uma série de posts, já que as notas que tenho sobre a matéria excedem em muito a ideia que tenho sobre o que deva ser a dimensão de um post. Mas aconteceu --- erro meu -- uma coisa com que não contava : não houve qualquer comentário aos dois posts que publiquei sobre o assunto. Ora a opção de usar o blog em vez de fazer o que seria "normal" ( escrever um artigo para uma revista ) tinha por base o pressuposto de provocar reacções e entrar em debate sobre a questão.
CULTURA COMBINATÓRIA (2)
(Venho dar continuação ao post anterior com o mesmo título, que deixei incompleto por falta de tempo.)
Antes de mais, é importante salientar que o conceito (o par conceptual) em questão não nasceu de uma elucubração em gabinete fechado, mas sim da necessidade de reformular o plano de análise de um projecto de investigação-acção, à medida que a equipa se via confrontada com os resultados das primeiras entrevistas aprofundadas efectuadas com intuitos exploratórios.
( Este post já vai demasiadamente longo. Fica para um próximo acrescentar algo sobre os desenvolvimentos e aplicações. Até breve)
José-Carlos Ferreira de Almeida
CULTURA COMBINATÓRIA
Trata-se de propor um conceito – aliás uma díade conceptual – que, que eu saiba, não foi até aqui usada no meu campo, que é o das Ciências Sociais e Humanas.
Sobre a noção de “cultura” não tenho nada de novo a dizer. Utilizo-a no seu sentido corrente em antropo-sociologia. Remeto o leitor para a definição que dela dá Guy Rocher no seu muito conhecido livro de referência sobre sociologia geral. Quando muito poderei acrescentar que a equipa (que mais adiante mencionarei) no seio da qual vim a alvitrar a adopção desta noção – o que foi aceite após larga discussão sobre várias alternativas – se enquadrava conceptualmente na noção de “dinâmica cultural”, cara a Paul-Henri Chombart de Lauwe, mentor da A.R.C.I. (Association de Recherche Coopérative Internationale), instituição que patrocinava,à época, estudos em vários países sobre o tema genérico dos “novos laços sociais”.
Quanto à “combinatória”, a inspiração foi claramente matemática. Estava em causa a análise combinatória e, por arrastamento a teoria dos conjuntos (mas não define Guy Rocher a cultura como um conjunto ligado – ou seja, um sistema, o que nos levaria à teoria dos sistemas, mas não é esse aqui o meu propósito -- ?).
Voltemos à díade. Ela consiste em “cultura(s) combinatória(s) / combinatórias culturais”. Não se trata de um simples jogo lexical de substantivação/adjectivação. As duas noções estão unidas por um nexo de causalidade circular, já que representam as vertentes sincrónica e diacrónica de uma mesma realidade. Com efeito – embora isso seja mais evidente nuns casos do que noutros e era-o muito particularmente naquele que deu origem à proposta em jogo – qualquer cultura (sincronicamente) é combinatória no sentido de que é a resultante do processo (diacrónico) de uma combinatória cultural.
(Fico-me por aqui hoje e deixo para amanhã ou um dia próximo a explanação da génese e de exemplos de aplicações da “cultura combinatória”).
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