No meu post [44] tive a oportunidade de chamar a atenção para eventuais confusões entre mente e espírito, por efeito da existência, ou não, de palavras distintas para esses dois conceitos, com implicações semânticas evidentes.
Hoje, queria abordar,com um intuito semelhante, o termo consciência. Para esse efeito vou socorrer-me do livro de António Damásio, O Sentimento de Si, do qual me limito a extrair alguns excertos seleccionados. Assim, o resto deste post é uma citação.
A preocupação com aquilo a que hoje chamamos consciência é recente -- data, talvez, de há três séculos e meio -- e só vem para primeiro plano no fim do século XX.
(...). [na história da língua inglesa] a palavra conscience, que vem do latim con e scientia, e que sugere a recolha e agregação de conhecimentos, está em uso desde o século XIII. (Na língua inglesa existem dois termos para consciência : conscience, que corresponde ao português consciência moral, e consciousness, que corresponde a consciência.) No entanto, as palavras consciousness e conscious (consciente) só aparecem na primeira metade do século XVII, muito depois da morte de Shakespeare (...).
Em inglês e em alemão existem palavras diferentes para designar conscience e counscieousness. Em alemão, a palavra para «consciência» é Bewusstsein e a palavra para «consciência moral» é Gewissen. Contudo, nas línguas românicas, existe uma única palavra para referir quer conscience quer counsciousness. Quando traduzo a palavra unconscous para francês (inconscient) ou para português (inconsciente), posso estar a referir-me quer a uma pessoa que se encontra em estado de coma, quer a uma pessoa cujo comportamento é unsconscinable (moralmente inaceitável). (,,,) nas línguas românicas apenas o contexto pode revelar o significado que se pretende. A propósito deste assunto devo dizer que as questões podem complicar-se bastante, embora sejam sempre interessantes. Em certas línguas românicas, como o francês e o português, também nos podemos referir à consciência com uma palavra que designa a agregação do saber, em francês connaissance e em português conhecimento. É de notar que, uma vez mais, a palavra para consciência se refere a «factos conhecidos», presumivelmente o facto de que existe um si e de que existem conhecimentos que lhe são atribuídos. Qualquer que seja a palavra para consciência, nunca estamos longe da noção de conhecimento abrangente, testemunhando variações sobre o con (uma abrangência) e a scientia (factos, científicos ou não).
" Tauismo e zen são ambos fundados sobre uma filosofia da relatividade, mas esta filosofia não é somente especulativa. Trata-se de uma disciplina do despertar que tem como resultado fazer experimentar de maneira permanente a sensação da inter-relação de todas as coisas e de todos os acontecimentos entre si. Esta sensação é subjacente e suporta a consciência habitual que nós temos do mundo como uma colecção de coisas diferentes e separadas -- estado de consciência que, em si mesmo, é chamado avidya (ignorância) pela filosofia búdica, porque, reparando só nas diferenças, ignora as relações das coisas entre elas. Não capta, por exemplo, que pensamento e estrutura, forma e espaço, são tão inseparáveis como o verso e o reverso, nem que o indivíduo está tão estreitamente emaranhado com o universo que um e outro formam um único corpo. "
Alan W.Watts, The Joyous Cosmology
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