Desde 2 de Setembro, e dos meus diálogos com a Wolkengedanken, que não escrevo nada sobre o Dharma.
(Parentesis : entretanto ela, que é austríaca, esteve cá e tive a experiência interessante de jantar e conversar pessoalmente com uma pessoa com quem os únicos contactos, até aí, tinham sido por interpostos blogs. Ela até publicou depois uma fotografia minha no blog dela -- para os curiosos, o link do blog da Wolkengedanken está na lista no meu blog.)
Hoje, ao procurar uma citação na Ética para o Novo Milénio, do Dalai Lama, encontrei um trecho que me pareceu interessante reproduzir aqui, porque respeita a um dos assuntos que mais se presta a confusões quando está em causa o Dharma. Aqui vai :
Penso que há uma importante distinção a fazer entre religião e espiritualidade. Considero que religião diz respeito à crença numa forma de salvação específica a cada tradição, um aspecto dessa religião consiste na crença numa realidade metafísica ou sobrenatural que inclua, por exemplo, a noção de céu ou de nirvana. Ligam-se a ela os ensinamentos religiosos ou dogmas, os rituais, a oração, etc. Considero que espiritualidade diz respeito ao cuidado a ter com as qualidades do espírito humano como o amor e a compaixão, a paciência, a tolerância, o perdão, o contentamento. o sentido da responsabilidade e da harmonia, que trazem felicidade para si e para os outros. (...)
(...) parece que há muita confusão, tanto entre crentes como não crentes, sobre em que consiste a prática espiritual. A característica comum a todas as qualidades que descrevi como "espirituais" é o interesse pelo bem-estar dos outros. (...) Mas implica também transformarmo-nos a nós próprios de forma a estarmos mais facilmente dispostos a fazê-lo. Falar de prática espiritual em termos que não estes não tem significado.
O meu apelo para uma revolução espiritual não vai no sentido de uma revoluçâo religiosa. (...) É mais um apelo para reorientarmos radicalmente a nossa visão de forma a afastá-la das preocupações habituais centradas no eu. É um apelo para considerarmos a comunidade mais alargada de seres com os quais estamoa ligados e para adoptarmos por uma conduta que reconheça os interesses alheios em pé de igualdade com os nossos.
(...)
O meu ponto de vista (...) [que se apoia] apenas no senso comum normal, é que é possível estabelecer princípios éticos vinculativos se tomarmos como ponto de partida o corolário de que todos desejamos a felicidade e queremos evitar o sofrimento.
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