Ontem estava imparável. Foram 3 vídeos [ que me deram um trabalhão, mais à equipa do SAPO ] e depois retomei Pema Chödrön. Mas só hoje acabei...
Como prometido, vou tratar do tema "tomar refúgio".
Hoje vou falar do refúgio nas três jóias -- o Buda, o dharma e a sangha -- e do que isso significa verdadeiramente.
[ Há uma divergência entre os diversos autores. Há quem escreva o sangha e quem prefira a sangha. Em inglês, como é óbvio, o problema não se põe. Mas como estou a traduzir do francês -- e tenho já escolhidos, para citar, outros textos franceses -- a questão coloca-se. Vou seguir o critério de usar a opção da versão que, em cada momento, esteja a citar, embora pessoalmente prefira a, já que a tradução mais simples do sânscrito seja a comunidade. ]
(...)Pensei sempre que a expressão «procurar refúgio» era muito surpreendente porque tem qualquer coisa de téista, de dualista, chama uma dependência : «procurar refúgio» junto de qualquer coisa. (...)
[Ora] a ideia de base do refúgio é que entre o nascimento e a morte estamos sós. Por conseguinte : procurar refúgio no Buda, no dharma e na sangha não significa que encontraremos consolação neles, como uma criança a encontraria em papá-mamã ; é antes a expressão fundamental duma aspiração para saltar do ninho, quer nos sintamos prontos a fazê-lo quer não, a transpor os seus rituais de passagem e a ser um adulto que não tem necessidade de agarrar a mão duma outra pessoa. (...)
(...) O facto de procurar refúgio é o meio pelo qual começamos a cultivar a abertura e a bondade que nos permitem de ser cada vez mais autónomos.
(...) Noutros termos, o único verdadeiro obstáculo é a ignorância (...) a recusa de olhar o que fica em suspenso.
(...) não falamos de encontrar consolação no Buda ,o dharma e a sangha. (:::) O Buda é o despertado, e nós também somos o Buda. É simples. Nós somos o Buda. (...) Eis o que significa ser um ser humano (...).
Tradicionalmente, procurar refúgio no dharma, é encontrar refúgio nos ensinamentos do Buda..Ora bem, os ensinamentos do Buda dizem : Largue-de-mão e abra-se ao seu mundo.(...) Numa perspectiva alargada, o dharma significa também toda a sua vida. (...) Aplicamo-los [ os ensinamentos do Buda ] na maneira de entrar em relação com outrem, nas situações da vida, na sua relação com os nossos pensamentos, as nossas emoções. (...).
Procurar refúgio na sangha significa procurar refúgio na fraternidade (que compreende tanto as mulheres como os homens) daqueles que se empenharam em retirar a sua "armadura" [que se entreajudam para o fazer], abstendo-se de encorejar a sua fraqueza ou a sua tendência a conservá-la.
Prrocurar refúgio nas três jóias não tem nada a ver com refugiar-se, no sentido corrente do termo. (...).
A prática quotidiana consiste simplesmente em fazer nascer uma aceitação completa de todas as situações e emoções e de todos os seres, assim como uma abertura total a tudo isto ; trata-se de fazer a experiência de todas as coisas totalmente, sem reservas nem bloqueamentos, de modo que não nos retiramos, não nos centramos nunca sobre nós próprios,
É por esta razão que praticamos.
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