Quarta-feira, 11 de Junho de 2008

[56] Ainda sobre o Dharma (7)

       No meu último post (Domingo) referi que tinha andado à procura de textos para citar nesta série. Sem sucesso. Não encontrava nada que me parecesse divulgável. Na sequência desse post uma das minhas "amigas" incitou-me a não desistir de publicar sobre o Dharma. De modo que meti-me ao trabalho. Só que mudei de abordagem. No Domingo tinha andado às voltas com três livros de um grande Rimpoché (à letra : "extraordinariamente precioso" -- é um título honorifico concedido pelos seus pares aos lamas que se distinguem pela sua grande sabedoria). Este lama, Chögyam Trungpa, é muito conhecido por ter sido um dos grandes responsáveis pela difusão do budismo tibetano no Ocidente. Por isso  o escolhi.  Mas daí a ser citável para mentes desprevenidas vai uma grande distância.

       A mudança consistiu em ler atentamente (já o tinha percorrido um tanto distraidamente, como vi pelas muito poucas passagens sublinhadas) um livro de uma monja americana [que foi casada duas vezes antes de se tornar monja e é mãe de dois filhos] . E encontrei muito material citável. Nem sequer o vou "esgotar" hoje -- vou só dar uma amostra.

       Ela chama-se Pema Chödrön. É o seu nome tibetano, que lhe foi dado quando ela "tomou refúgio" e que, portanto, ela usa ao esrever sobre budismo [ De resto o mesmo fez ontem a nossa monja Tsering Baldron quando interveio no programa da SIC-Mulher sobre budismo.] ["Tomar refúgio" é considerado como um segundo nascimento, a ponto de poder ser comemorado como um aniversário].

        O livro tem um título interessante : "Entrar em amizade consigo mesmo" e, como sub-título : "Dizer sim à vida, reconciliar-se consigo mesmo e com o mundo", [Só o título já é todo um programa.] Vou citá-lo a partir da tradução francesa, porque é a versão que tenho.

       Com tantos preliminares. e para não maçar muito o leitor, já não fica muito espaço para citações hoje, Mas,de qualquer forma, aqui fica uma amostra. Se as reacções forem favoráveis continuarei.

 

       (...) Além de descobrir a nossa verdadeira natureza, aprendemos também a conhecer os outros. (...) O que é preciso reter é que a nossa verdadeira natureza não é um ideal ao qual nós devemos aspirar, É a pessoa que nós somos agora e é com ela que nós podemos entrar em amizade e celebrar.

       Não existe nem inferno nem paraíso fora da maneira como entramos em relação com o nosso mundo. (...) O nosso trabalho na vida é de despertarmos, de deixar as coisas que entram no círculo despertarem-nos mais do que adormecer-nos. O único meio de chegarmos aí, é abrirmo-nos, ser curiosos e desenvolver uma espécie de sentimento de simpatia em relação a tudo o que acontece, para poder conhecer a sua natureza e daí tirar um ensinamento.

       (...) Chegamos então ao mais interessante : como fazer ? (...) O mais difícil e o mais corajoso (...) é observar de maneira contínua as suas próprias crenças, directamente, com honestidade e clareza, e depois ir mais longe. Isto exige muito coração e benevolência. É necessário ser capaz de tocar e de conhecer o coração da sua experiência, sem rudeza e sem fazer nenhum julgamento. (...) ver o que é, Reconhecê-lo sem o julgar bem ou mal. Largar de mão e voltar ao instante presente.(...)É uma ocasião de ver que nos agarramos à nossa interpretação da realidade(...) nem mais nem menos : somente a nossa própria interpretação da realidade.

 

       Creio que já chega , por hoje, Continuarei (ou não...).

 

publicado por Transdisciplinar às 16:31
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12 comentários:
De outraidade a 11 de Junho de 2008 às 19:42
Obrigada pela partilha e pelas passagens extrordinárias que escolheu para transcrever. Afinal alguns destes "ensinamentos" nós temos, por experiência, que estão intimamente ligados com o nosso bem-estar, à nossa felicidade e à boa convivência com os outros. Mas dominarmo-nos, isto é, aprendermos a dominar os nossos ímpetos mais " humanos" é uma verdadeira "batalha" connosco e com os outros.


De Transdisciplinar a 11 de Junho de 2008 às 19:56
Mas que rapidez de comentário !
E muito obrigado pelo teor. Só por isso já dou por bem empregue o tempo que me levou ler atentamente a (interessantíssima) Pema Chödrön .
Um grande bem-haja.


De mdsol a 11 de Junho de 2008 às 20:06
Vi parte do programa da Sic Mulher...e, claro que me lembrei de si" e da pausa que tinha feito na abordagem deste tema. Ora aqui está mais uma escolha feliz, para ler e reler e tentar integrar na nossa interpretação ... que, como dizia a Callas, tem de ser perfeita (a interpretação) rsrsrs
:))


De Transdisciplinar a 12 de Junho de 2008 às 08:15
À hora a que lhe respondo (acordei a meio da noite, o que é hábito -- o que não é é levantar-me e vir para o computador) li o comentário de uma pessoa a quem recomendou o meu blog. Respondi-lhe usando o link que fornecem no mail de aviso, mas quando tentei ir ver o blog dela (MIA) não consegui nada. Sabe-me dizer alguma coisa a esse respeito ?
Voltando ao meu post . Realmente o livro da Pema Chödrön é muito interessante. E tem a vantagem de nos dar a visão de uma monja americana, casada duas vezes e mãe de dois filhos. Suponho que ela, como monja, não pode voltar a casar. mas, por exemplo o meu lama-raiz , que, não há muito tempo. até foi elevado à categoria de Rimpoché é casado (de resto , com uma mulher muito simpática -- tive ocasião de ser convidado a almoçar com eles duas vezes).
Não sei o que me deu para escrever uma resposta tão longa. Deve ser da hora. isto é : devo estar num "bardo " (faltam-me os itálicos mas um bardo é um entre-dois ).
Seja como for : bem-haja pela sua visita, pelo seu comentário, e por me ter recomendado a outra pessoa.
:)))


De soflor a 11 de Junho de 2008 às 20:33
Lendo o teu texto só me ocorreu uma viagem ao nosso interior que por vezes pode ser muito doloroso e é preciso muita coragem para além de nos virarmos para dentro de nós ,irmos tocar em feridas abertas para podermos perceber o porquê delas existirem. Mas uma coisa eu sei, alguns porquês nunca terão resposta....Beijinhos ...


De Transdisciplinar a 12 de Junho de 2008 às 08:24
Mas o Dharma passa por isso, por essa viagem ao nosso interior, E não se deve ter medo de a fazer, por dolorosa que seja. O resultado compensa...
:))


De soflor a 12 de Junho de 2008 às 09:03
Permite-me te dizer que por experiência própria ..existem certos acontecimentos que não se devem "mexer " porque não compensa...só se acorda a dor.... Beijinhos...


De Transdisciplinar a 12 de Junho de 2008 às 11:26
Como falas "por experiência própria" não te posso contradizer. Se achas que não compensa quem sou eu para te dizer o contrário ?
Que sejas feliz (que é o que todos desejamos...).
:))


De mia a 12 de Junho de 2008 às 01:00
Aconselhada pela MdoSol comecei a ler o seu blog. Na verdade há muito que me interesso por estes temas e, por isso, conto ser uma leitora tão assídua quanto o meu escasso tempo livre me deixar. Muito obrigada por tudo o que já escreveu e espero que continue a escrever.


De Transdisciplinar a 12 de Junho de 2008 às 07:17
Sou eu que lhe agradeço a visita e o comentário tão amável . Ainda por cima recomendada pela MdoSol (por quem tenho grande apreço),
Tentei ir ver o seu blog , mas o link MIA não funcionou. Não tem blog ou prefere que o não vejam ? SE quiser, diga-me alguma coisa a esse respeito
;))


De mia a 12 de Junho de 2008 às 18:59
Ainda não tenho blog. Já criei um, mas não consegui a disponibilidade para escrever o que gostaria e, para escrever qualquer coisa, acho que não vale a pena. Vou ocupando os tempos livres que consigo a ler alguns que vou encontrando e que valem a pena. O seu vai continuar a ser um dos que não perderei.


De Transdisciplinar a 12 de Junho de 2008 às 19:16
Cara Mia,
Então não posso lê-la, como queria.
De qualquer forma agradeço o seu interesse. E, já agora, aproveito para lhe dizer que hoje mesmo publiquei outro post sobre o Dharma .
:))


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